A SAUDADE
A saudade é
um monstro silencioso. Paciente, frio, calculista. Vive em lugares recônditos
da nossa alma, sempre em constante, mas suave, movimento para escapar por entre
as nossas débeis, e quase sempre vãs, tentativas de a aniquilarmos. Pérfida,
insidiosa, arrasta-se, viscosa, pelos interstícios da alma …
A saudade é um monstro ardiloso. Depois de
instalada, vai-nos aguilhoando a alma devagarinho, como quem não tem pressa. Em
trabalho paciente e laborioso, vai-nos mortificando até nos vencer, fazendo-nos
acreditar que pode ser morta. ‘A saudade deve matar-se.’ Que ingenuidade!
Quanto mais se tenta matar a saudade, mais força ela ganha. Alimenta-se da
nossa dor, da mágoa, da tristeza. Quando se instala faz parar o tempo, escorre
pelos olhos.
Por isso,
há que a combater. Cultivar o esquecimento, esquecer devagarinho… Não lhe dar
tréguas. A cada investida responder com uma nova alegria, que também um dia se
transformará em saudade.
A saudade é
um abraço que asfixia a alma…