... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014


A SAUDADE

A saudade é um monstro silencioso. Paciente, frio, calculista. Vive em lugares recônditos da nossa alma, sempre em constante, mas suave, movimento para escapar por entre as nossas débeis, e quase sempre vãs, tentativas de a aniquilarmos. Pérfida, insidiosa, arrasta-se, viscosa, pelos interstícios da alma …

 A saudade é um monstro ardiloso. Depois de instalada, vai-nos aguilhoando a alma devagarinho, como quem não tem pressa. Em trabalho paciente e laborioso, vai-nos mortificando até nos vencer, fazendo-nos acreditar que pode ser morta. ‘A saudade deve matar-se.’ Que ingenuidade! Quanto mais se tenta matar a saudade, mais força ela ganha. Alimenta-se da nossa dor, da mágoa, da tristeza. Quando se instala faz parar o tempo, escorre pelos olhos.

Por isso, há que a combater. Cultivar o esquecimento, esquecer devagarinho… Não lhe dar tréguas. A cada investida responder com uma nova alegria, que também um dia se transformará em saudade.

A saudade é um abraço que asfixia a alma…