... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!
terça-feira, 24 de abril de 2012
A Maior Flor do Mundo
”E
se as histórias para crianças passassem
a ser de leitura obrigatória para os adultos?
Seriam eles capazes de aprender realmente
o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”
José Saramago
Para quem gosta de Saramago e ... para quem deveria gostar!
quarta-feira, 18 de abril de 2012
CLARABOIA
Claraboia
foi o segundo romance escrito por Saramago, no início da década de 50, mas a
editora a quem o autor entregou a obra só respondeu 40 anos depois. Daí
Saramago ter recusado a sua publicação enquanto fosse vivo. Não encontramos,
ainda, as características de oralidade que definiram o estilo de Saramago,
sobretudo no que respeita à sintaxe e à pontuação, e que parecem esbater-se nos
últimos trabalhos do autor.
A história
passa-se num prédio de uma modesta rua – não identificada - de Lisboa, no
início dos anos 50. O poder de observação psicológica de Saramago apresenta-nos
os dramas quotidinanos, as pequenas tragédias e comédias das seis famílias que ali
vivem. A ironia e a acutilância habituais de Saramago imiscui-nos no microcosmos
que a fauna humana daquele prédio representa.
Apesar de
já tanto ter sido dito sobre José Saramago, aqui fica uma brevíssima biografia.
Nasceu na Golegã, a 16 de novembro de 1922 e
morreu em Lanzarote, a 18 de junho de 2010, onde vivia, em segundas núpcias com
Pilar del Rio. Foi escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista,
dramaturgo, contista, romancista e poeta. Ganhou, em 1995, o mais importante
prémio da língua portuguesa, o Prémio Camões, e, em 1998, foi galardoado com o
Prémio Nobel da Literatura. Posicionou-se, na vida, como ateu, comunista e
ibérico.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
A VIAGEM
É noite em mim. A chuva
molha-me, gelada, incessante, ritmada. Os trovões ribombam na minha cabeça. Os
relâmpagos entram pelos dedos dos meus pés e sobem pelo meu corpo, queimando-me
as entranhas. É noite em mim. O negrume envolve-me como um manto angustiante.
Asas negras de aves negras abraçando uma alma negra. A sensação da chuva gélida
penetra na minha pele, aperta-me a carne, difunde-se pelos ossos, apaga o
incêndio dos relâmpagos, gela-me a alma.
*
E o sol fora de mim. O
calor sufoca as mulheres nos seus vestidos de seda, minúsculos, os homens nas
suas calças e camisas claras e até as crianças que tinham sido autorizadas a
brincarem na piscina. A festa está animada. Doces, salgados e bebidas exóticas
combinam em cores e sabores com a efusividade dos convivas. Não os detesto. Não
os odeio. Não os invejo, sequer. Já lhes pertenci. Ou, pelo menos, tive a
ilusão de lhes pertencer. Quando percebi que não passava de ilusão, que não
podia juntar-me a eles nem vencê-los, decidi vencer-me a mim própria.
Passar despercebida – já
que o sonho da invisibilidade sei-o irreal.
Gosto de festas. É muito
mais fácil não chamar a atenção. Permitem-me viajar para dentro de mim sem que
ninguém se aperceba da minha presença, da minha solidão. E se alguém,
inadvertidamente, repara em mim ou me dirige a palavra, tenho o treino
suficiente para dar uma quase - resposta, com um quase - sorriso, e rastejar,
de novo, para dentro de mim, sorrateiramente. Trata-se de uma tática
desenvolvida e aperfeiçoada, com grande perseverança, ao longo de muitos anos.
A princípio, o meu sorriso era amarelo e tinha dificuldade em esconder a dor
que os outros me infligiam. Mas, a pouco e pouco, e com vontade férrea, fui
conseguindo disfarçar, fingir, responder o que era expectável e começar a
construir a minha casa dentro de mim. Fui tão empenhada que consegui chegar a
este patamar de perfeição onde me encontro: quando sou confrontada, rodo o
botão da indiferença e, tranquilamente, regresso a “casa”, eliminando até os
ecos das vozes alheias.É claro que a
quantidade e qualidade das dores infligidas pelos outros tiveram uma
quota-parte significativa no aperfeiçoamento desta técnica.
*
É noite lá fora. E em mim. A minha
“casa” alargou-se ao meu quarto. Reconforta-me a dor que as paredes me
transmitem. A estas nada posso confessar. Absorveram os gritos, as zangas, os
insultos, as humilhações. Nem elas lhes resistiram. Cada grito tem um rosto, mas
misturam-se, confundem-se até já não se saber a quem pertencem. Nem importa.
Cumprem a sua missão de fazer doer. É tudo.
Aqui, no escuro, sentada
na minha cama, fixando o vazio, sei que mantenho, ainda, a minha sanidade
mental. Sei que não vou conseguir dormir. O dia foi cansativo. Viajar para
dentro de mim e manter-me, ainda assim, alerta quanto à possibilidade de um
confronto, desgasta-me. Em dias assim sei que não consigo dormir. Resisto, no
entanto, aos comprimidos. Sei que no dia em que começar não pararei. Ou que
será o fim. Nunca tinha pensado na minha morte. No entanto, ultimamente, essa
ideia tem-me feito companhia. Vou-a acarinhando como uma presença
reconfortante. O nada. Alguns comprimidos e pufff!!! Nada de confrontos, de
dores, de viagens. Nada mais que o vazio. Tenho plena consciência de que me
encontro na ténue e frágil linha entre a loucura e a sanidade, entre a vida e a
morte. Ainda tudo é possível. Tudo menos continuar aqui. Tudo menos continuar a
ser o cofre onde todos guardam as suas culpas, os seus rancores, as suas
mágoas, as suas frustrações. Um cofre aberto onde os outros encontram sempre
espaço para encerrarem mais uma dor.
Partir!
Partir seria bom. E
possível. Abrir o cofre, qual caixa de Pandora, e deixar sair todas as dores.
Vê-las esvoaçar como loucas, tontas de liberdade, ébrias de espaço. Sabê-las
buscando os algozes que as haviam encerrado em mim, mas, memórias doloridas,
confundindo-se, criando o caos. E eu … livre! Livre de tempo, de espaço, de
dor.
Partir é urgente. Partir
de mim, vencer-me.
A noite adensa-se fora
de mim. Esforço-me por não me deixar perder nela. Sinto-me perto do fim. A
linha fragiliza-se e fragiliza-me. Viajo nas minhas memórias. Sinto todas as
dores passadas e presentes. Cada uma volta a queimar-me como ferida lancinante,
insuportável.
Partir é possível.
Partir é urgente. O nada …
*
O aeroporto amanhece
cinzento e húmido. Sempre gostei de aeroportos. Agrada-me a ideia da partida. E
a do anonimato.
A avaliar pelos olhares
que os outros me deitam devo apresentar um aspeto pavoroso. Sinto os olhos
vermelhos, a pele pálida, o cabelo desgrenhado. A velha mochila leva apenas
duas mudas de roupa interior, uma camisa, um par de calças e um casaco quente.
Dirijo-me ao guichet e, perante o olhar estupefacto da funcionária, peço:
- Um bilhete para o
próximo avião que sair do aeroporto, não importa o destino.
Parti.
terça-feira, 3 de abril de 2012
A CATEDRAL DO MAR
Uma belíssima história para ser lida por mentes fortes! Apesar de não ser esse o tema principal esta parece-me uma obra fundamental para compreender a posição da mulher na época medieval ... e como, em muitos lugares do mundo essa posição pouco ou nada terá mudado!
Desta vez opto por deixar um link que descobri sobre o autor e a obra.