A TEIA
Como
habilidosa e paciente fiandeira, fiz-me seda para te tecer a vida em fios
entrelaçados. Fios de silêncio costurando o tempo em teia circular, fiz-me
arquiteta deste refúgio, espuma macia e aveludada, mas mais forte que aço. Vagarosamente,
em alma de urdidora, no rebrilho das manhãs teci e reteci o fio, entrelacei e
reentrelacei mais e mais teia, dançando ao som da brisa dos passos que te
adivinhava. Esperei-te em lençol de núpcias …
E vieste.
Chegaste sem avisar. Mas, agora descansada da tarefa árdua, tinha preparado o
meu coração para te receber. Vi-te rodear várias teias de várias formas. As sofisticadas,
as presunçosas, as falsamente ingénuas e tantas outras. Mas nem a força de
todas as teias, juntas no esforço de te atrairem, te demoveu. Tranquilamente
acercaste-te da minha. Subiste devagar - por vezes em palpos de aranha! -, mas
sempre seguro. Fazias vibrar a teia, puxando laços, cegando nós … Dançámos ao
som das cordas de um violino, finos fios de teia, numa dança nem sempre certa.
Aos poucos fomos acertando o passo, até fluirmos pela teia sem atropelos nem
hesitações.
Finalmente,
cortei o cabo de segurança, o fio fino e seco, que, cautelosa, tecera no
início. O nosso amor por um fio, amor e vida entrelaçados numa teia de aranha.
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