O FIO DAS
COISAS
Há
fios que nos ligam a todas as coisas. Alguns de aparência frágil, quase
impercetíveis, mas que se vão mantendo sem se quebrarem, fortalecendo-se, até,
com o decorrer do tempo. Outros densos como cordas, bem visíveis, aparentemente
indeléveis, mas ocos por dentro, desfiando-se facilmente.
Há
um fio que liga a tua boca ao meu ouvido, a minha boca ao teu ouvido. Ouvidos e
bocas ligados, enlaçados, entrelaçados em fio mutante. Ora forte ora frágil.
Quase rasgando-se, quase enlaçando-se em nó firme. É neste subtil fio que vive
este sentimento, balançando-se entre a boca e o ouvido. Suspenso no tempo
imóvel de alguns minutos. O fio vai traçando um mapa na memória, formando-se em
novelo emaranhado. Nós cegos que hesito em libertar, receando que se desfaçam
entre os dedos.
O
fio desenha palavras que sabem ora a fracasso, ora a vitória, ora a ansiedade,
ora a desalento. E outros fios se emaranham entre as bocas e os ouvidos.
Sombras de outros mapas traçados a fios robustos.
Por
vezes, o fio desenha palavras sem margens, traça momentos que transbordam as
cercas que lhes impuséramos. Mas, inexoravelmente, delineia comportas que
prendem as emoções.
Um
fio de tempo sem tempo à vista.