Apetece-me
ser o Outro, a Puta,
Aquele
de quem ninguém tem compaixão!
Apetece-me
ser a corrupção,
A
pessoa mais vil, perversa e bruta!
Apetece-me
dar o coração
A
quem de mim se serve e não me escuta!
Apetece-me
qu’rer perder a luta
E
abandonar-me assim de mão em mão!
(Apetece-me
mais do que imagino:
Vestir
o bibe e ser aquele menino
Que
ouvia a voz do amor serena e calma!)
Apetece-me
ser quem eu não sou
E
ao fim fazer amor com quem esmagou
A
volúpia nas garras da minh’alma!
Paulo Ilharco
PARANÓIA
Pede-me o
poeta: ” Não penses em mim enquanto lês o livro.” Era lá eu capaz de tal!? Um
dos maiores prazeres que retirei desta leitura foi precisamente o ato de perscrutar
recantos recônditos de uma alma recentemente descoberta. Mas a amizade não
velou o meu discernimento. Reitero ao autor o meu deslumbramento por assistir,
bastas vezes, ao fluxo de palavras que lhe jorram da mente instintiva e
inusitadamente.
Um livro
autobiográfico (?). Sem dúvida que, cada um de nós, quando escreve, coloca nas
palavras, sejam narradas ou “enpoetadas”, algo de si próprio. No entanto, sendo
que cada um de nós é também, e sempre, um pouco de todos os outros com quem se
cruzou, poderá um livro ser inequivocamente autobiográfico? Quais de nós estaremos
nesta alma de poeta e quais de nós virá ela, ainda a ser?
Deixa a tua
alma infetada, Paulo! Não tomes antibiótico!
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