... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!
segunda-feira, 26 de março de 2012
O MESTRE DE
ESGRIMA
Assim …
sim! Um escritor surpreendente!
Terminei,
na semana passada, a leitura d’ A Sombra da Águia de Arturo Pérez-Reverte. Como
não gostei muito, uma colega insistiu que eu lesse O Mestre de Esgrima. Ora se
o primeiro versava sobre a guerra, num registo que me lembrou Saramago, no que
se refere à pontuação e ao estilo livre de misturar falas de personagens,
obrigando a uma atenção minuciosa mesmo de um leitor competente, já o segundo
nos mostra uma Madrid muito ao estilo da Barcelona de Carlos Ruíz Záfon e uma
história de mistério, amor, policial, política, sem, no entanto, explorar
demasiado o lado negro, obscuro e sobrenatural daquele autor.
Se, por um
lado, é agradável encontrarmos sempre o mesmo registo de escrita e ambiência em
autores que apreciamos, por outro, é muito interessante a surpresa da diferença.
E não será, com certeza, fácil conseguir tal proeza.
Arturo
Pérez-Reverte, um autor a conhecer melhor!
segunda-feira, 19 de março de 2012
EM ESPERA …
Sei que virás.
De mansinho.
Chuva miudinha, acalmando a minha
ansiedade.
Lentamente,
Envolver-me-ás como uma hera.
A bússola das tuas mãos guiará o meu
desnorte.
Acenderás luzes nas vielas escuras dos
meus olhos.
Acalmarás a fúria deste silêncio.
O teu sorriso feliz atravessará, de
novo, os meus dias,
Varrendo vendavais de mágoas.
A alegria que te mora
Criará um pedaço de céu,
Sarará os dias de carne viva.
Os teus olhos, búzios de mar verdeal,
Segredar-me-ão mistérios incontáveis.
Retirarás o punhal que atravessaste na
minha vida,
alagando-me de carícias.
Arrumarás, de novo, os meus sonhos.
Acontecerás como brisa fresca.
Sei que virás!
domingo, 18 de março de 2012
A SOMBRA DA ÁGUIA
A história é
baseada num acontecimento real: em 1812, na campanha da Rússia
de Napoleão, um grupo de soldados espanhóis, antigos prisioneiros, integrados à
força no exército francês é tomado por herói no preciso momento em que tenta
desertar, passando-se para os russos. O imperador envia mesmo uma carga de
cavalaria em auxílio do batalhão espanhol. Mas este episódio não passa de um
pretexto para o autor descrever o que de mais básico decorre do interior de
cada homem: a coragem, a cobardia, o medo, a ambição, a ignomínia, o desprezo …
Nunca
tinha lido este autor e, apesar de o tema não me agradar, particularmente,
gostei do registo de escrita um pouco ‘livre’, ao estilo de Saramago.
Arturo Pérez-Reverte nasceu em Cartegena, em
1951. Foi jornalista, tendo trabalhado durante muitos anos como repórter de
guerra. Dedicou-se à literatura desde 1980, tendo-se tornado membro da Real
Academia Espanhola, em 2003. Na sua obra, traduzida em quase 30 idiomas, revela
uma visão pessimista da existência. Continua a ser polémico enquanto jornalista
e escritor. Escreveu: "O cemitério dos barcos sem nome",
"Território Comanche", "O hussardo", "O pintor de
batalhas" e os seis romances da série de aventuras “Capitão Alatris”.
sábado, 10 de março de 2012
PORTO DE
ABRIGO PRECISA-SE!
Navego
em mar de sal ardente. Rasgado por chispas lancinantes de luz, por atroadores
sons vindos das profundezas, o breu, manto negro, áspero e pesado, envolve a
minha frágil concha de madeira. Ondas alterosas atiram-me para nenhures, qual
marioneta presa por fios invisíveis direcionando os meus movimentos, a minha
vida sem piedade. Céu e mar unidos num só elemento, predispostos a engolirem-me
vorazmente. Navego sem rumo, ao sabor do vazio, perdida no nada.
Lentamente,
à distância, uma das chispas parece mais constante. As vagas aproximam-me do
minúsculo ponto de luz que, lentamente, se vai revelando um porto de abrigo! O
desespero impulsiona-me a tentar rumar naquela direção, mas … quantos portos de
abrigo deixados para trás? Quantos se revelaram inseguros? Quantos não passaram
de miragens, quimeras de quase-náufraga em fim de linha? Suspensa na crista da
onda, suspendo a decisão …
CONCLUSÃO -
1
Ao
contrário de Ulisses, obrigo-me a não ouvir um canto de sereia que me poderia ser
fatal. Viro a proa da minha casca de noz à tentação e embrenho-me mar adentro,
enfrentando os elementos. Afinal o meu porto de abrigo está em mim!
CONCLUSÃO
- 2
A tentação
é forte, o desespero vence. Viro a proa em direção ao porto de abrigo, esperando
encontrar a bonança. Mas, inexplicavelmente, o ribombar dos trovões adensa-se,
o som das ondas torna-se mais forte e ameaçador. De repente, poucos metros à
minha frente, altas escarpas aguçadas delineiam-se no horizonte negro. A
escassos momentos do embate fatal, viro a proa mar adentro, enfrentando os
elementos. Pelo caminho, outros portos acontecerão. Diz-se que, na viagem, o
que conta é o caminho e a bagagem. Melhorará o meu discernimento?
CONCLUSÃO
- 3
A tentação
é forte, o desespero vence. Viro a proa em direção ao porto de abrigo,
esperando encontrar a bonança. À medida que me aproximo, a luz começa a romper
por entre o negume e vai-se tornando mais esplendente. O ancoradouro surge como
um refúgio acolhedor há muito ansiado. Aquieto-me.
Flutuo, agora,
em águas de calmaria neste porto seguro. Sei que outras tempestades virão, mas
estarei fortalecida e saberei rumar, sempre, a este escape. Porto de abrigo
encontrou-se!
Estive, ontem, num encontro com o escritor João Manuel Ribeiro,
senhor de trato afável, que cria uma proximidade fantástica com os seus
interlocutores, fruto da simplicidade que caracteriza os homens que, de facto,
possuem um dom. Segundo as palavras do escritor, a sua primeira paixão é ler, a
segunda escrever, a terceira estudar e a quarta … não fazer nada! Uma ordenação,
no mínimo, interessante!
Transcrevo, aqui, um dos belíssimos poemas, do belíssimo livro “amo-te
poemas para gritar ao coração”. Profundo, doce e simples!
NO ATALHO DAS
TUAS MÃOS
Andei pela bainha
dos dias
costurando paisagens
colhendo suspiros
sorrisos
palavras breves
frutos para
trincar em horas azedas
corro hoje
despido pelos
trilhos da tua pele
rindo muito
fazendo-te
cócegas
soletrando afagos
e perdendo as
mãos
no atalho das
tuas mãos
João Manuel ribeiro nasceu em Oliveira de Azeméis, em 1968.
É licenciado em Teologia e mestre em Teologia Sistemática pela
Faculdade de Teologia do Porto, da Universidade Católica Portuguesa, com uma
tese sobre "Um Itinerário da Modernidade em Portugal - A Evolução
Espiritual de Antero de Quental". É também mestre em Supervisão
Pedagógica e Formação de Formadores na Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade de Coimbra, com dissertação sobre “A Poesia no 1.º
Ciclo do Ensino Básico – Das Orientações Curriculares às Decisões Docentes”.
Nesta mesma Faculdade prepara tese de doutoramento em Ciências da Educação
sobre “A Poesia na Escola – Organização do Ensino e Compreensão da
Literariedade”. Aliás, como diz o escritor, uma das suas paixões é estudar.
Recentemente tem-se dedicado à escrita para crianças, dinamizando oficinas
de escrita criativa e encontros em escolas.
Para crianças publicou: Estrela e Príncipe da Paz (2005), O
Encanta Pardais Voador (2006), ONatal do Ratinho Daniel e outros
versos (2006), Rondel de Rimas para Meninos e Meninas (2008), A
Menina das Rosas (2008), (Im)Provérbios (2008), Poemas da
Bicharada (2008), Um, dois, três - Um mês de cada vez (2008), Poemas
para Brincalhar (2009) e Alfabeto de Adivinhas (2009), Pontos sem
nó (2009), Gémeos (2009), A Casa Grande (2009), Romanceiro
de Natal (2009, com Vergílio Alberto Vieira).
Publicou ainda os seguintes livros de poesia: Regras do mel e
da flor (2002), Amores quase perfeitos e outras arritmias (2002), Livro
de Explicações (2003), A circulação precoce dos relâmpagos (2007), O
Anjo acocorado (2009), Trajectória inconsútil do desejo (2009).