VIDAS RECRUZADAS
Meio
dia em ponto. Cumpria-se o ritual das últimas semanas. O carro parou em frente
à janela dela. Ele saiu. Cumprimentaram-se. Ele dirigiu-se a casa. Ela seguiu-o
com os olhos, ele com o pensamento e o sorriso divertido de quem se sabe
seguido. Ao entrar em casa, virou-se, acenou-lhe e ela retribuiu. A porta
fechou-se. A janela fechou-se.
E,
um dia, o encontro na loja dos telemóveis. O sorriso. A fila que desesperava
por andar. O cumprimento. E a fila que não andava. A conversa de circunstância.
A fila que não andava. A conversa mais próxima. A fila que, felizmente, não
andava. Ele, divorciado, de volta a casa dos pais. Ela, livre, na mesma casa. A
maldita máquina que gritava já o número da senha dela. Os longos momentos de
conversa com o funcionário. A pressa fingida da despedida. A deceção do nada.
E,
subitamente, a voz dele a agarrar o momento. “ Um café, à tarde, no Lusitano? ”.
E o sol a inundar o tempo do reencontro.
Olá, Ana!
ResponderEliminarA arte de falar sem nada dizer, por falta de "coragem" para dizer aquilo que se ansiava por ver dito.E o salvar dum muito desejado encontro no último instante, perante o desespero de ver a oportunidade a perder-se...o que terá acontecido com tanta gente.
Imagem feita de poucas palavras e lindamente construída; parabéns!
Abraço; bom restinho de semana.
Vitor
Nota: No anterior post, mudei o comentário sem adiantar a razão; a verdade é que depois de o reler desaprovei o que foi escrito.. e aqui fica a explicação...
Que Legal. O Acaso é sempre cheio de surpresas mesmo.
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