LONGE
O
carro rolava à velocidade do passeio de domingo. Quase deserta, ao início daquela
tarde de verão, a estrada secundária.
A
voz do companheiro começou a diluir-se na distância que, a pouco e pouco, se ia
criando entre eles. Acenava com a cabeça, murmurava um ‘hum, hum’, de vez em
quando, mas os seus olhos iam-se detendo numa curva familiar, uma casa
particular, um jardim que o seu coração reconhecia, à medida que avançavam.
Há
quanto tempo não pensava nele? Na verdade pensava sempre nele. Desistira de
tentar esquecê-lo. Mas há muito tempo que conseguira deixar de lembrar,
constantemente, aquele tempo.
Quando
o amigo insistira em tomar aquele caminho, não pensara no assunto. Mas, à
medida que os seus olhos iam reconhecendo os lugares, o coração ia recordando
cada conversa, cada gargalhada, cada malícia. Já não lhe doía como antes. A
angústia em forma de dor lancinante fora sendo substituída por aquela
melancolia profunda.
Impossível
não comparar a alegria daqueles tempos com a monotonia do presente. O caminho
fazia-se, então, de tranquilidade e sobressaltos, de risos e seriedade. Mas,
sobretudo, da certeza de um caminho partilhado. Agora, apenas um vazio de
saudade certa de longevidade.
Olá, Ana!
ResponderEliminarPenosa esta romaria da saudade; terminada em desencanto, porque o encanto com o tempo se foi.
Quadro de vida onde tanta gente se pode olhar, aqui muito bem pintado - usando as cores do presente e passado.
Bom fim de semana; um abraço
Vitor