OS NOIVOS
A
manhã de terça-feira de Carnaval ia adiantada, por isso as duas raparigas
trabalhavam com afã para terminarem a estranha tarefa. Como qualquer menina
prendada da época, as irmãs cedo tinham começado a aprender a costurar. As
agulhas entravam e saíam dos tecidos com rapidez, deixando um rasto de pontos
seguros e precisos. Finalmente, os fatos estavam prontos. Seguia-se, agora, a
difícil empreitada de os vestir. Os tecidos eram delicados e o diminuto tamanho
das roupas e de quem as vestia dificultavam a tarefa.
Desceram
as escadas do sótão a correr, gritaram para a mãe, que já preparava o almoço na
cozinha, que iam a casa do Luizinho e voaram através do guarda-vento até à
porta da rua. Atropelaram um gato e dois vizinhos antes de abrirem, com espavento,
a porta do prédio onde vivia o amigo. O rapazote já as esperava e desceu num
instante. A conspiração, que se iniciara no dia anterior, exigia compenetração.
Luizinho recebeu a caixa de papelão das mãos das meninas e, com gravidade,
dirigiu-se, sempre pelo passeio, até ao seu destino.
A
dona Carminda chegava do talho do senhor Dionísio, quando o filho dileto da rua
a abordou com o ar sério que, apesar da idade, já o caracterizava.
-
Um presente das meninas Horta, dona Carminda.
A
senhora estranhou a situação, mas, pensando tratar-se de um pedido de desculpa
daquelas pestes, e uma vez que o presente vinha pela mão do Luizinho, rapazinho
ajuizado cujo futuro diplomático já se antevia, aceitou a caixa e abriu-a.
A
princípio não percebeu muito bem o que continha. Ao tocar nas estranhas roupas,
no entanto, a senhora tornou-se lívida e, deixando cair a caixa, desatou a
correr, rua abaixo, gritando, desgrenhada e enlouquecida.
Pela
porta entreaberta do prédio do amigo, as duas meninas choravam, copiosamente,
de tanto riso. Espalhados no chão da rua, jaziam os corpos das duas ratazanas,
mortas, na véspera - por ratoeiras
conseguidas sabe-se lá onde! O véu da “noiva” rasgado na queda, o fraque
do ”noivo” sem uma manga. Um enlace desfeito!
NOTA: Asseguro que o 'humor' não se desenvolveu exatamente da mesma forma na família!
Olá, Ana!
ResponderEliminarEssas duas prendadas meninas afinal eram frescas...Ratos travestidos de noivos, se não é humor negro, é pelo menos cinzento...
E viva a boa disposição, já que é Carnaval!
Uma abraço.
Vitor
Brincadeira de Carnaval um pouco malvada :)
ResponderEliminarBeijinho
Ná