NÓ DE ESTRADA
Chegaste repentinamente e desarrumaste o meu coração.
Há quanto tempo este caminho vinha sendo preparado!
Trilhámos continuamente atalhos paralelos, nunca cruzados. Íamos olhando de
soslaio para esta estrada, mas tropeçávamos sempre em escombros soltos pelos
carreiros.
De repente, os nossos atalhos cruzaram-se. Assim, do
nada. Quase sem que nenhum de nós o previsse ou até tivesse feito algo para que
tal acontecesse. Cruzámo-nos neste nó de estrada e, assombrados, ficámos sem
saber o que fazer. Olhando para trás víamos o caminho, que desembocava neste
enlace, vazio de nós. Adiante uma estrada que se abria incerta. Seria larga?
Comprida? Acolher-nos-ia, protegendo-nos de intempéries, assaltos, ataques
vindos de veredas obscuras? Ou terminaria poucos metros à frente?
Diante de nós, as cores do verão despiam de névoa o
caminho que se abria, ocultando a escuridão dos atalhos, delineando as bermas,
desenhando terreno seguro. Saberíamos nós vestir-nos de piratas, de ciganos, de
anjos e demónios e percorrer esta
estrada, de mãos dadas, com paixão e ternura, com cumplicidade, lealdade e
verdade? Parados neste nó de estrada, hesitávamos entre o conforto do presente
e a incerteza do desconhecido. A viagem seria leve - sabíamos - se nos
despojássemos das bagagens que cada um trazia, mas muito mais pobre. (A
facilidade nunca nos seduziu!)
O que haveria para lá do horizonte? Um precipício? Um castelo?
Apenas a continuação da estrada?
Decide (comigo) disfrutar do caminho, descobri-lo
devagar, sem a ânsia de conhecer o lugar onde nos leva!
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