... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!

sexta-feira, 18 de maio de 2012


UM JANTAR ATRIBULADO

PARTE I
            Já eram quase 7 horas e o sol ainda queimava. Tal como as tardes dos últimos dias, aquela apresentava-se quente e abafada. Felizmente, o curto percurso desde a paragem do autocarro até ao quartel fazia-se sempre pela sombra das árvores do jardim que confinava com a frescura das pedras morenas do monumental edifício.
            As meias de seda preta justificavam-se, porque até há poucos dias aquele maio tinha sido chuvoso e frio – além disso, eram uma peça obrigatória para combinar com os sapatos de verniz pretos de saltos altos e a minissaia preta!
            O quartel erguia-se no alto de uma larga escadaria. Do lado esquerdo do portão, um soldado, de postura rígida, vigiava a entrada. Deu dois passos em frente quando a viu subir os degraus. Vinte anos de alegria, de boa disposição, de jovialidade, mas, sobretudo, de uma enorme excitação causada pela expetativa daquele jantar.
            - Gostaria de falar com o oficial de dia – disse, tal como o candidato-a-namorado a tinha instruído, com ar de uma segurança que estava longe de sentir.
            - O senhor oficial de dia está à espera da senhora. Primeira porta à direita – retorquiu o soldado.
            Era a primeira vez que lhe chamavam senhora! Ora … primeira porta à esquerda, dissera o homem … ou seria à direita? Não, primeira à esquerda, tinha a certeza. A penumbra da minúscula divisão desorientou-a um pouco, mas rapidamente se apercebeu dos vultos dos dois soldados que se levantaram, estremunhados, dos divãs encostados à parede, sem perceberem o que fazia ali uma mulher. Quase em simultâneo chegou o candidato-a-namorado que tentava engolir o riso. Ela procurava o mais ínfimo buraco no chão, onde pudesse esconder o constrangimento da situação. Fulminou com o olhar o pobre que não conseguia conter o riso, enquanto subiam as escadas que levavam ao bar dos oficiais. Mas a noite ainda lhe reservava aflições maiores!

3 comentários:

  1. Ana, boa noite!
    Começa a interessar-me a história, para já,gostei de imaginar todo o constrangimento da jovem.

    Beijinho,
    Ana Martins

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  2. Olá, Ana!

    Pela amostra, a história promete.Uma jovem bonita a entrar no reino de homens fardados.E cá ficamos à espera do que se segue..

    Bom fim de semana.
    Vitor

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