UM JANTAR ATRIBULADO
PARTE III
Depois
da bebida que, apesar de ter detestado, não lhe tinha, felizmente, provocado
nenhum efeito nocivo, ficou sozinha. O rapaz – rapaz! Como é relativo o
conceito de idade! Como ele muda à medida que vamos amadurecendo! – tinha-lhe
dito que ia “passar revista às tropas”. Seria isso? Devia ser. Mas ficar ali
sozinha durante largos minutos estava fora de questão. Saiu para o corredor e
dirigiu-se à janela, atraída por um ruído de botas a baterem no cimento e uma
voz forte de comando. Fascinada, ficou ali a assistir ao que pensava ser uma
“parada” e curiosa por ver as cabeças dos soldados que constituíam as duas
fileiras todas viradas na sua direção. Só ao fim de alguns minutos percebeu
que, vista do pátio do r/c, a sua minissaia, no 1º andar se tornava muito mais
mini!!!
A
noite parecia ter-se transformado num desastre. Mas, aos 20 anos qualquer
desaire é facilmente ultrapassável. Não deixaria que o jantar fosse
irrepetível!
A
sala de jantar ficava no r/c, num dos lados do pátio agora vazio. Era ampla,
ricamente decorada, mas muito menos acolhedora que o bar. Não achou graça ao
peixe cozido com batatas cozidas que o soldado de serviço lhes serviu. Também
não gostou do vinho nem do facto de não poder estar sozinha com o candidato-a-namorado.
Estava ansiosa pelas gargalhadas que ambos trocariam, afinal, apenas no dia
seguinte.
Sem
mais incidentes, o jantar chegou ao fim e a menina que dera, naquela noite, um
dos primeiros passos para se tornar mulher, saiu pela porta por onde entrara,
algumas horas atrás, impassível perante as adivinhadas risadinhas dos poucos
soldados que se encontravam no quartel.
O
candidato-a-namorado foi-o durante quatro anos. Os jantares e as gargalhadas
mantiveram-se durante todo esse tempo com a mesma candura e a mesma alegria. Há
memórias que podem ser um inferno … outras (estas) teimam em fazer-nos
acreditar no Paraíso!
Olá, Ana!
ResponderEliminarSó hoje aqui chego, porque anteriormente, ao aqui querer entrar, me era mostrado um sinal de aviso sugerindo a existência de virus; e então eu dava meia volta ... como por vezes também se faz na tropa.
Vejo que a personagem desta história chegou ao fim das visitas ao quartel com um sentimento de contentamento, de que tudo terá corrido a contento,apesar daquela mini-saia...que parece ter feito as delícias de toda aquela tropa...
Gostei de ler; está bem contado.
Um abraço
Vitor