... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!

domingo, 16 de dezembro de 2012


NOITE LONGA

2.00. E o sono não chega.
            2.47. Lá fora, o som de três pancadas fortes, logo a seguir, o estilhaçar de vidros e, um minuto depois, o som de um carro a arrancar a alta velocidade. O café em frente é, mais uma vez, assaltado. Parece que a máquina do tabaco, mesmo à entrada, é bastante apelativa. O vizinho do lado telefona à polícia e explica o que acaba de acontecer. Minutos depois, um carro para.
            2.12. O vizinho do lado volta ao telemóvel. Desta vez deve ser alguma amiga também notívaga. Prefiro tentar evitar perceber o que ele diz, mas o tom em que fala não deixa dúvidas. Efabulo, imediatamente, um daqueles tórridos, impossíveis e fugazes amores virtuais. (Pelo tom de voz, tórrido é pouco!) Deve tê-la conhecido num chat, no Facebook ou num blogue. Não importa. O rapaz é novo, tem tempo de sobra para desperdiçar e perceber o que é verdadeiramente importante na vida.
            3.08. A vida vai passando por aqui. Um episódio antigo, outro recente, um triste, outro feliz. E o sono não chega. Noite tão longa, tantas coisas para resolver! Não me apetece. Prefiro conversar contigo. Gosto mesmo destas conversas. Não podes interromper-me, irritar-me, fingir que não percebeste nem “encostar-me à parede” com perguntas de respostas difíceis. Não deixarás nem eu deixo palavras presas numa refração de instantes. Uma espécie de vingançazinha pessoal. Os pensamentos são as sombras dos nossos sentimentos.
            6.00. Começa a formar-se aquele limbo entre o estado desperto e o adormecido. As imagens misturam-se, confundem-se, diluem-se umas nas outras. Não me apetece adormecer …
            Acordarei daqui a pouco e lavarei dos olhos os restos de treva. Por agora, vou ao encontro de mim.

1 comentário:

  1. Olá, Ana!

    Noite mal dormida, essa. Acontece...e então conversamos com nós próprios, o que nem sempre é nada fácil já que temos de falar por dois - que nem sempre estão de acordo...

    Por aqui, é mais o levantar do padeiro que mora ao lado, ou o tocar do sino, que por vezes me tira o sono; razão bem mais prosaica do que a desse seu vizinho...

    Lembro de ter referido a morte de sua mãe, que associado ao facto de saber que outros também já as não têm, me fez hesitar em publicar a história; por ela poder ser encarada como atitude egoísta e insensível, mas depois não resisti...E obrigado pelas palavras simpáticas que deixou.

    Boa semana; um abraço
    Vitor



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