... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

AFAGOS DE LUAR



Esta noite vieste afagar-me.
Esperei-te entre os lençóis de linho bordados a Richelieu. Espalhei alfazema pelo quarto, apaguei a luz e aguardei a tua chegada. Sabia que virias esta noite. A saudade, quando arrastada no tempo, com intensidade, pode tornar-se palpável e matar-nos. Esta noite a saudade, esta solidão acompanhada, fez parar o tempo para que viesses afagar-me. Esperei-te no negrume do silêncio noturno.
Timidamente, um ténue reflexo despontou da claridade evanescente e azulada da lua – o azul sempre fora a tua cor preferida. Tratava-se de um simples feixe pestanejante de luz, um débil remanso de claridade que desceu, serpenteando, pelo mar de prata que conseguia vislumbrar pela janela. Sabendo da tua obstinação em relação a mim, fechei os olhos. Então, uma lança de luz entrou no meu quarto, fazendo sombras reluzirem na penumbra. Multiplicaste-te em inúmeros raios de luar, criando um universo de luz e sombras, rodeaste a minha cama de cortinas nebulosas de claridade. Senti os teus dedos cálidos de luar, silhuetas em contraluz, mordendo-me a pele, alvoraçando-me o sangue, tateando-me a alma. Vesti-me de luar e, no quarto banhado de prata, fomos mais do que o universo. Provei o teu corpo num sonho, provei o teu gosto em silêncio como quem bebe o luar, num tempo preguiçoso que a nossa memória, casa desta saudade angustiante, prolongou. No céu, qual aranha diligente, a lua tecera uma tapeçaria de estrelas, numa salva de luz indizível. Todas as palavras não chegam para descrever o amor que correu à solta pelo quarto.
Esta noite fizeste-te luar e vieste afagar-me.
Cedi ao sono e sonhei-te assim.

Nota: O prazer que me deu “roubar” o título deste texto!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O PRÍNCIPE DA NEBLINA


A história passa-se numa povoação marítima do sul de Inglaterra, durante a II Guerra Mundial. Num mundo de mistério e magia, acção e suspense, Max, a sua irmã e um amigo de ambos, Roland, veem-se envolvidos numa sequência de acontecimentos que levam à vitória do Mal, personificado num aterrorizador “príncipe”.
Apesar de escrito no característico registo fluído e aliciante deste autor, nota-se a falta do desassombro da escrita posterior. Mas, um excelente romance, ainda assim.




Carlos Ruiz Zafón nasceu em Barcelona, em 1964 e é, hoje, um dos autores mais lidos, reconhecido em todo o mundo. Tendo estudado no Colégio dos Jesuítas de Sarriá, cursou jornalismo e trabalhou em publicidade. Abandonou a sua actividade como director criativo de uma grande empresa, em 1992, para começar a escrever. Vive em Los Angeles, California. É guionista cinematográfico e colabora com os jornais La Vanguardia e El País.
Escreveu:
- El Príncipe de la Nieba (prémio Edebé), 1993
- O Palácio da meia-noite, 1994
- As luzes de Setembro, 1995
Estes três livros seriam compilados, em 2007, n’ A Trilogia da Neblina.
- A Sombra do Vento (finalista do Prémio do Romance Fernando Lara, 2001 e do Prémio Libreter, 2002)
- O Jogo do Anjo, 2008
- Marina, 2010


domingo, 18 de dezembro de 2011

AS SERVIÇAIS


 A ação passa-se em Jackson, Mississipi, época em que a segregação racial acicata a luta pelos direitos civis dos negros. Tendo como base a relação entre as criadas afro-americanas e as patroas brancas, a autora traça retratos fascinantes de mulheres bastante díspares entre si e que desempenham diferentes papéis sociais. Uma mulher branca, de classe social elevada, mas completamente distinta das amigas fúteis, sobretudo no que respeita a aspirações de vida, escreve um livro sobre as relações estabelecidas entre criadas e patroas, em coautoria com algumas mulheres negras, inteligentes e algumas até instruídas, todas exemplos de coragem, mas que são diariamente sujeitas a humilhações, vexames, indiferença e desprezo por parte das senhoras brancas.
Ressalve-se, ainda, outros temas trabalhados na história e de extraordinária importância, tais como a violência doméstica, a necessidade de ensinar o Bem às crianças, todos os dias, como única forma de construção de uma sociedade de facto justa e o poder dos livros e da escrita.
Tanto a história como as histórias que a compõem são escritas por múltiplos narradores, técnica difícil por permitir, facilmente, que o leitor menos treinado se perca, o que não é, de todo, o caso.
História com histórias de afetos e esperança. Uma leitura emocionante sobre um tema que, infelizmente, se mantém bastante atual, embora com contornos diferentes, mais sórdidos, porque, muitas vezes, mascarados de necessidades políticas prementes, questões geográficas, alfandegárias e outras quantas do mesmo tom segregativo.
Um livro algo autobiográfico já que a própria autora refere, em nota final, ter-se inspirado na sua própria criada negra e na relação de ternura criada entre ambas.


Biografia
Kathryn Stockett nasceu em Jackson, Mississipi, em 1969, e tem 4 irmãos. Licenciou-se na Universidade de Alabama, em Inglês e Escrita Criativa. Até 2001 viveu em Nova Iorque, onde trabalhou no mercado editorial, na publicação de revistas e marketing. Agora vive em Atlanta, com o marido e a filha. The Help é o seu primeiro romance.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

 Aqui ficam mais dois endereços de ebooks.


Florbela Espanca

Almeida Garrett

O ÚLTIMO SEGREDO


Um considerado historiador e criptanalista português vê-se envolvido numa trama urdida por uma organização “lateral” da igreja católica – a P2 – e uma seita religiosa extinta há dois mil anos – os sicarii. Tomás Noronha viaja de Itália até à Irlanda, passa pela Bulgária e, finalmente, quase perde a vida em Israel, na tentativa de desvendar um segredo que uns pretendem expor, outros esconder: a verdadeira identidade de Jesus.
Como ficção parece-me um excelente thriller, bem estruturado, criando o suspense necessário e revelando um final entusiasmante. No entanto, José Rodrigues dos Santos e o Secretariado Nacional Pastoral da Cultura envolveram-se em acesa discussão acerca do polémico assunto, o que levou à troca de comentários entre crentes e não crentes e a uma reflexão da sociedade acerca do cristianismo. 


José Rodrigues dos Santos nasceu em Moçambique, em 1964. Começou a sua carreira como jornalista, em Macau, na Radio Macau. Licenciou-se e doutorou-se, posteriormente, em Comunicação Social, na Universidade Nova de Lisboa, em 1987. Foi trabalhar para londres para a BBC e regressou a Portugal, em 1990, para a RTP. Colaborou com a CNN de 1993 a 2001. Ganhou vários prémios académicos e jornalísticos. Para além de jornalista é professor de ciências da educação e escritor.
Escreveu:
A Ilha das Trevas (2002)
A Filha do Capitão (2004)
                O Codex 632 (2005)
A Fórmula de Deus (2006)
O Sétimo Selo (2007)
A Vida num Sopro (2008)
Fúria Divina (2009)
Conversas de Escritores (2010)
O Anjo Branco (2010)
                                                                                                   O Último Segredo (2011)            

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A ÚLTIMA VIAGEM DE COLOMBO


Num relato rico e fluente, apresenta-se, nesta mistura de romance histórico e biografia, o lado humano do carismático marinheiro Cristóvão Colombo. Figura enigmática, homem de visão, aventureiro, pai, amante, tirano e herói.
Martin Dugard inicia a pesquisa ao serem encontrados os destroços do La Vizcaina, um dos quatro navios da última e quarta viagem que Colombo fez ao Novo Mundo, na tentativa, infrutífera, de encontrar o caminho marítimo para o Oriente. Tratou-se de uma viagem épica cheia de tempestades, motins, guerras e um naufrágio dos quais Colombo escapa com muitas dificuldades. Morre dois anos depois do seu regresso a Espanha, rico, mas injustiçado.

Martin Dugard vive em Orange County, na Califórnia e escreve para várias revistas, tais como Esquire, Outside, Sports Ilustrated e GQ. Escreveu  No Coração da África (2004), As Aventuras do Capitão James Cook, entre outros.