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segunda-feira, 11 de junho de 2012


AMAR POR REFERÊNCIA

Terá o conceito de amor mudado ao longo dos tempos?
Dizem alguns entendidos, estudiosos da história do amor – haverá uma? – que hoje se ama por referências. De facto, assistimos, frequentemente, a casos em que, claramente, a união de duas pessoas acontece meramente por interesse(s). É a profissão do outro, a conta bancária, a forma de vestir, os lugares frequentados, a beleza física, enfim, todo o estilo de vida que se adequa e encaixa na perfeição no que cada um formulou como objetivos de vida. A situação pode ocorrer, com níveis diferentes de percetibilidade, em diferentes camadas sociais, mas parece ser transversal a todas. Na verdade, se a empresária de sucesso procura um companheiro dentro do seu estrato social, financeiro e cultural – ou superior – também a empregada doméstica rejeitará, à partida, um vagabundo sem eira nem beira.
Apontam-se, hoje em dia, vários agentes facilitadores destas “combinações”. De entre eles, talvez os mais convincentes, categóricos, possam ser o económico – e lá vem a crise justificar, mais uma vez, o, a meu ver, injustificável – e o modismo. Deste último também é difícil escapar. Todos os dias somos atacados por jornais, revistas, televisões, outdoors, no sentido da valorização do ter – pior: do parecer! – em detrimento do ser. A questão económica levará, realmente, muitas pessoas a partilharem as suas vidas porque a partilha de despesas torna o quotidiano mais confortável.
Mas, reportemo-nos ao passado. Não precisamos de recuar muito no tempo para nos lembrarmos da dependência da mulher em relação ao homem. Salvo honrosas exceções ditadas por circunstâncias várias, as mulheres dependiam dos homens, tanto na vertente económica como na familiar e na social. Como é que as mulheres – ou os pais – escolhiam os maridos? Tendo em conta a situação de vida dos candidatos, claro. E como é que os homens escolhiam as esposas? Sobressaíam, na altura, as prendas domésticas, a beleza física e o património financeiro, claro.
Poder-se-á, então, dizer que o leitmotiv das relações “amorosas” mudou? Ou será que  ele apenas se tornou mais visível, já que as mulheres são mais independentes e escolhem os companheiros de forma mais aberta? É que associar as nossas mães e avós a escolhas frias e racionais dos seus maridos, movidas por um desejo de uma vida confortável, parece-nos um sacrilégio.
Sejamos, então, nós – os que, de vez em quando, pensamos nestas coisas – o mais racionais possível. Então não é natural que as pessoas se agrupem de acordo com os seus interesses? Com limites mais ou menos definidos, cada um procura na sua esfera de amigos, conhecidos ou “assim-assim” a pessoa com quem gostaria de partilhar a sua vida. Tratar-se-á, no fundo, de uma questão de interesses mais do que de interesse. Um plural que faz toda a diferença!
O interesse dos interesseiros sobreviverá enquanto a humanidade existir.
Os verdadeiros interesses que despoletam o amor, esses serão intemporais!

1 comentário:

  1. Olá, Ana!

    Tema interessante e vasto, este.

    Como em tudo o mais na vida, também as "escolhas" de natureza amorosa sempre foram, e são, condicionadas:Pelo lugar onde nascemos, pelo círculo social em que nos movemos, pelo universo das próprias escolhas possíveis - sem que fundo disso tenhamos muita consciência.
    E histórias da rica herdeira que casa com o mendigo, ou então com o Chauffeur que no fundo era um príncipe, só mesmo em histórias cor de rosa...
    Uns mais, outros menos, todos seremos calculistas neste campo, talvez sem que disso nos dêmos conta.

    Um abraço; até ao próximo
    Vitor

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