... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Para ti
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada

e para ti foi tudo


Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei  voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia Couto, in “Raíz de Orvalho e Outros Poemas”

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