... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012


A TEIA

Como habilidosa e paciente fiandeira, fiz-me seda para te tecer a vida em fios entrelaçados. Fios de silêncio costurando o tempo em teia circular, fiz-me arquiteta deste refúgio, espuma macia e aveludada, mas mais forte que aço. Vagarosamente, em alma de urdidora, no rebrilho das manhãs teci e reteci o fio, entrelacei e reentrelacei mais e mais teia, dançando ao som da brisa dos passos que te adivinhava. Esperei-te em lençol de núpcias …

E vieste. Chegaste sem avisar. Mas, agora descansada da tarefa árdua, tinha preparado o meu coração para te receber. Vi-te rodear várias teias de várias formas. As sofisticadas, as presunçosas, as falsamente ingénuas e tantas outras. Mas nem a força de todas as teias, juntas no esforço de te atrairem, te demoveu. Tranquilamente acercaste-te da minha. Subiste devagar - por vezes em palpos de aranha! -, mas sempre seguro. Fazias vibrar a teia, puxando laços, cegando nós … Dançámos ao som das cordas de um violino, finos fios de teia, numa dança nem sempre certa. Aos poucos fomos acertando o passo, até fluirmos pela teia sem atropelos nem hesitações.

Finalmente, cortei o cabo de segurança, o fio fino e seco, que, cautelosa, tecera no início. O nosso amor por um fio, amor e vida entrelaçados numa teia de aranha.

Sem comentários:

Enviar um comentário