... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


                                                                                           TAITAI                               

            A Taitai chegou àquela que viria a ser a minha primeira casa cerca de cinco anos antes de mim. Quase recém nascida tornou-se, obviamente, o bibelot da família: biberon, mimos e tudo aquilo a que uma gata de boas famílias que se preze tem direito. Dona e senhora da casa – aliás, todo o prédio de dois andares estava por conta dela! -, não lhe agradou a minha chegada. Portanto, logo que nasci, tornei-me num alvo mais apetecível que qualquer mísero roedor que sofresse o infortúnio de se cruzar com a temível gata.
 Temível, sim! A bicha infernizou-me durante os meus primeiros seis anos de vida. É certo que nunca me fiz de novas e retribui sempre na mesma moeda. O carrinho das bonecas, por exemplo, era o meu instrumento preferido de tortura – ao longo do comprido corredor, passeava-a dentro dele, tapada com um cobertor, sob os olhos vigilantes da minha mãe que, apesar das inúmeras e constantes tentativas de nos aproximar, sabia que a bicha não era flor que se cheirasse.
Mas havia outras formas de me vingar daquela vez em que a minha avó a tinha encontrado com as patas dianteiras pousadas em cima do meu berço a olhar-me fixamente, enquanto bufava de dentes aguçados e pelo eriçado.
Seis anos depois de muitos odiozinhos mútuos, a Taitai finou-se. Conta a lenda familiar que a gata esperou que a minha mãe – o ser que ela mais amava no mundo! – chegasse do cinema para morrer nos braços dela. Naquela noite, ninguém me deixou aproximar da gata. De manhã, o meu pai pô-la dentro de uma caixinha de sapatos e foi sepultá-la no Choupal.
Todos devíamos morrer nos braços daqueles que amamos.

2 comentários:

  1. Olá, Ana!

    Amor com amor se paga, lá diz o ditado; e esta história de desamor e ciúme é disso uma boa prova...muito bem relatada.

    Pessoalmente, confesso que nunca morri de amores por gatos - criaturas egoístas, que só retribuem o que antes já lhes foi dado...A ter um bicho por perto, preferiria, de longe, um cão. E quanto à conclusão final, acho que é consensual...

    um abraço.
    Vitor

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  2. Olá, Ana!
    Acabei de ler o seu comentário, e como imagino que gostará, aqui deixo o link.

    Experimente clicar com o o botão direito do rato, depois de ter seleccionado o endereço, passando-lhe por cima com o botão do lado esquerdo premido; depois siga as indicações, e espero que resulte.
    Boa noite!

    http://www.youtube.com/v/CpGzjJkEVAo&hl=pt_BR&fs=1&

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