... pelo simples e indelével prazer da leitura e da escrita!

sexta-feira, 11 de abril de 2014


O FIO DAS COISAS

            Há fios que nos ligam a todas as coisas. Alguns de aparência frágil, quase impercetíveis, mas que se vão mantendo sem se quebrarem, fortalecendo-se, até, com o decorrer do tempo. Outros densos como cordas, bem visíveis, aparentemente indeléveis, mas ocos por dentro, desfiando-se facilmente.

            Há um fio que liga a tua boca ao meu ouvido, a minha boca ao teu ouvido. Ouvidos e bocas ligados, enlaçados, entrelaçados em fio mutante. Ora forte ora frágil. Quase rasgando-se, quase enlaçando-se em nó firme. É neste subtil fio que vive este sentimento, balançando-se entre a boca e o ouvido. Suspenso no tempo imóvel de alguns minutos. O fio vai traçando um mapa na memória, formando-se em novelo emaranhado. Nós cegos que hesito em libertar, receando que se desfaçam entre os dedos.

            O fio desenha palavras que sabem ora a fracasso, ora a vitória, ora a ansiedade, ora a desalento. E outros fios se emaranham entre as bocas e os ouvidos. Sombras de outros mapas traçados a fios robustos.

            Por vezes, o fio desenha palavras sem margens, traça momentos que transbordam as cercas que lhes impuséramos. Mas, inexoravelmente, delineia comportas que prendem as emoções.

            Um fio de tempo sem tempo à vista.

1 comentário:

  1. Olá, Ana!

    Quem diria que um modesto fio teria assim tanta importância? Que invisível, ainda assim serve de ponte e ligação, quando acontece não se partir...Caso para dizer que a importância de tais fios é muitas vezes enganadora quanto ao grau de resistência que parecem oferecer - como se estivéssemos nós numa aula de estudo sobre resistência de materiais...

    Lindo texto, num bem construído jogo de palavras.

    Bom Domingo, com um abraço
    Vitor

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